segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

O JARDIM DE JOSÉ

Texto extraído da secção "Corre e Fala a este Jovem" edição 205 do Jornal Árvore da Vida (www.arvoredavida. org.br/jav)

José, um dos filhos mais jovens de Jacó, é um personagem bíblico importante para os jovens. A firmeza do jovem José e seu amor ao Senhor, a despeito das muitas tribulações por que passava, são um exemplo a ser seguido por todos os cidadãos do reino dos céus.
Por outro lado, as bênçãos proféticas de Jacó, proferidas em favor de seus filhos, nos mostram a importância dos frutos de um José em meio ao povo de Deus. Jovem, você deseja ser conhecido por sua instabilidade, por suas muitas paixões, ou pela firmeza em Cristo? Qual é seu impacto na igreja? É possível encontrar seus frutos, seus filhos espirituais, vivendo a realidade do reino dos céus?

A ESPERANÇA DE DEUS NÃO É COMO A DOS HOMENS
Deus sempre desejou salvar e abençoar todos os homens (1 Timóteo 2:4). José foi enviado ao Egito para conservação da vida, para salvação, tanto de sua casa, quanto do povo egípcio (Gênesis 45:5). A nossos olhos, para influenciar (e salvar) uma nação, a melhor estratégia é utilizar um cidadão local, importante, poderoso e, por que não, muito rico. Mas, com o fim de salvar o reino do Egito, Deus escolheu usar um estrangeiro, um jovem escravo, desprezado até mesmo por seus próprios irmãos.
O Senhor não vê como vê o homem. A esperança de Deus não é como a dos homens. Para Deus, aquele mero jovem escravo era a esperança do Egito. Aquele jovem atado, sem controle sobre a própria vida, era a pessoa preparada por Deus para a conservação da vida de sua família. Deus vê em nós, jovens, a esperança de muitas nações. A salvação dos povos, a conservação da vida de muitos, nos foi confiada. Você está preparado para desempenhar uma função tão crítica? Provavelmente não. Mas você pode começar a experimentar o que é ser uma benção para aqueles que o rodeiam.
Chegando ao Egito, José foi vendido a um oficial de faraó, chamado Potifar, e, por causa de José, Deus abençoou aquela casa (39:5). As pessoas podiam perceber que o Senhor era com José, pois tudo o que lhe era confiado chegava a bom termo (vs. 2-4). Durante o tempo de serviço a Potifar, José certamente aprendeu muito acerca dos sistemas de administração e política egípcios. Assim, ele estava sendo uma benção para Potifar e, ao mesmo tempo, estava se preparando para ser uma benção para todo o Egito.
Essa é uma grande lição para os jovens cristãos. Quer tornar-se uma benção? Então, cumpra o que lhe foi confiado. Seja um bom filho, um bom estudante, um bom cidadão. Não desperdice seu tempo, não seja medíocre. Muitos jovens têm a impressão errônea de que podem viver para si agora, já que, no futuro, serão restringidos pelo matrimônio, a paternidade e as responsabilidades na igreja. Todavia, quem insiste em viver para si agora, continuará a viver para si no futuro e não obterá sucesso em nenhuma dessas áreas. Devemos aprender a viver para Deus hoje, glorificando Seu nome em tudo o que fazemos.
Tudo em nossa vida é espiritual. Tudo o que fazemos, em palavra ou ação, dever ser feito em nome do Senhor, de todo o coração, dando graças a Deus (Colossenses 3:17, 23). Lavar pratos é espiritual. Estudar matemática é espiritual. Respeitar as autoridades é espiritual. Tudo é espiritual para os nascidos do Espírito, pois, em tudo o que fazem, seguem o Espírito (João 3:8).
José não tinha acesso a todas as bênçãos que hoje recebemos em Cristo. José tinha apenas uma promessa, dada a seu bisavô Abraão, e uma visão, que tivera ainda muito jovem. Entretanto, baseada na promessa e fortalecido pela visão, José construiu sua história com Deus. Ele conhecia o Senhor.

CUIDAR DAS RAÍZES
Podemos perceber, ainda, que José não foi forçado a buscar Deus pelas circunstâncias. O que o impulsionava era muito mais profundo, muito mais poderoso: era a sua fé. Quando parecia que nada poderia piorar, José foi injustiçado e lançado no cárcere. Mas ali, no fundo do poço, o jovem-escravo- preso não estava sozinho: o Senhor era com ele (39:22). Por isso José não dependia da situação à sua volta. Ele tinha o que necessitava: o próprio Deus. Na prisão, ele aprendeu a lidar com os inimigos do Egito, os mesmos com quem teria de lidar, na posição de líder do Egito. Na prisão, ele também aprendeu a esperar no Senhor.
Hoje, o mundo tenta nos distrair, nos vender necessidades. Quem precisava de um celular há 15 anos? Quem precisa do mundo hoje? Só aqueles que não têm Deus. Ora, o mundo passa, bem como a sua falsa graça. Jovem, de onde vem a sua alegria? O que você precisa para obter paz? Você precisar esperar em Deus, lançar raízes em Deus. Você precisa lançar raízes no amor de Deus, a ponto de estar firmado e alicerçado (Efésios 3:17). José estava alicerçado em Deus e, por isso, foi usado por Deus, para expressá-Lo, para fazer o que Deus queria fazer. José era como um ramo frutífero, junto à fonte. Seus galhos se estendiam sobre os muros. O impacto de sua vida com Deus não se limitava à sua casa ou ao seu povo (Gênesis 49:22).

O jardim de José, a vida cotidiana de José, era cheio de frutos. Hoje, cada um de nós tem a responsabilidade de cultivar e guardar seu jardim. Temos o dever de viver uma vida cristã baseada, arraigada e alicerçada na presença de Deus. Temos de viver a vida normal da igreja, seguindo o Senhor Jesus e negando a nós mesmos (Mateus 16:24). Deus nos escolheu para abençoar a terra, trazendo Seu reino, um reino de justiça, paz e alegria. E o caminho para nos tornarmos representantes de Deus e suprirmos vida aos homens, é ser um ramo frutífero como José: ser uma bênção hoje ser uma bênção ainda maior amanhã.


domingo, 8 de novembro de 2009

Pequenos Milagres - O recibo

Como você já percebeu não sou escritora nem nada. De vez em quando ouso rabiscar algumas coisas que tocam meu coração. Gostaria que fossem mais.
Costumo atuar como uma espécie de mãe secretária na vida do meu filho que é médico e quase não tem tempo para nada.
Dia desses ele me pediu para fazer um deposito identificado para ele relativo ao pagamento de uma inscrição de residência médica. Como sempre, pedido feito, pedido atendido.
O tempo passou e ele não pediu o recibo. Hoje pela manhã ele vai fazer a prova e diz:
-mãe onde está o recibo do depósito da residencia. Cadê? Onde o deixei? Lembrei que minha minha filha havia feito o deposito para mim.
- Cadê o recibo do depósito? pergunto a ela que ainda estava deitada e ela responde:
-entreguei a você.
- Tem certeza? eu pergunto.
- Tenho. Vira para o canto e volta a dormir.
Lá vou eu procurar o bendito porque não me lembrava de tê-lo guardado. Procuro daqui, procuro dali e nada.
Saio para o quintal e varrendo-o começo pedir a Deus que mostre o tal recibinho. Se meu filho passar na residencia médica vai precisar dele. Se não achá-lo tenho ir ao banco arrumar outro. Fico imaginando: vou aqui, vou ali até achar um abençoado que me dê uma segunda via.
Em minha aflição não percebo que minha filha chega perto de mim com a mão escondida e um sorrisinho no rosto.
Ela vira para mim e diz: - Sonhei que não tinha te dado o recibo, levantei e fui procurar na minha gaveta. Aqui está ele.
Você pode imaginar minha alegria. Ela ainda disse: - Jesus te ama mesmo!
- É verdade. Faço uma oração de agradecimento e continuo meu serviço.

domingo, 1 de novembro de 2009

A Graça de Deus na Criação, na Cultura, na sociedade e na economia

Ariovaldo Ramos
O terrível, num tema como esse, é escolher a abordagem: ou começar pela análise da criação, da cultura, da sociedade e da economia, num dado contexto, e delinear o que seria, nestes, ação da graça; ou optar por uma definição do que é graça, em cada tema, estabelecendo, assim uma possibilidade de detecção desta em cada qual, como um princípio de conduta.
Escolhi a Segunda.
Certa feita, ouvi Noé Stanley dizer, com muito bom humor , que teólogo latino americano não tem teses, tem "apuntes".
E eu, que nem teólogo sou, tenho apenas rabiscos, e é isso que ofereço aos irmãos, meros rabiscos, frutos de reflexão simples.
Que o Deus triúno possa fazer deles uso. Amém!

"'Deus é infinitamente bom?, perguntávamos. 'Sim, infinitamente.' 'Ele sabe tudo que vai acontecer?' 'Sim...'respondia o padre, já desconfiado. 'Então, se ele sabe que fulano vai pecar e vai para o inferno, por que ele cria o cara?' Nenhum padre me respondeu essa questão atéia, até hoje." Arnaldo Jabor
Desprezando o conteúdo utilitário da questão – só criar o que me vai ser útil; o que não dará dor de cabeça – ela tem pertinência em si, principalmente quando nos deparamos com um mundo mal.
Se pudesse ser dito que Deus não sabia, e que está correndo atrás do prejuízo...mas. a onisciência lhe é inerente.
O problema, penso, não está apenas na criação, mas , também, na manutenção da mesma: como pode um Deus santo manter um mundo mal?
Teríamos, ademais, uma questão de lógica:
o apóstolo Paulo, segundo vejo, nos oferece um silogismo: premissa maior: "nele (Deus) vivemos, e nos movemos e existimos..." premissa menor: "todos se extraviaram..." conclusão: logo, todos desaparecemos, deixamos de existir.
Se Deus é nossa fonte, local e ambiente de existência e, se com ele rompemos, quando no Éden, como podemos continuar a existir? E se nossa queda trouxe maldição para o planeta (Gn 3.17), como pode este estar aí?
A criação de um mundo, que se tornou mal, assim como sua manutenção atentariam contra a onisciência de Deus; contra a sua santidade e contra a vontade e a lógica humanas.
"E no entanto, ela se move" Galileu Galilei
A criação e a sua manutenção exigiriam um fator exógeno como explicação. Esse fator teria de ser capaz de justificar um ato onisciente e de intermediar a relação entre a santidade e a maldade, tornando-a possível.
(Cl 1.15-17) Este é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; pois, nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele. Ele é antes de todas as coisas. Nele, tudo subsiste.
Paulo parece remeter tudo para Jesus Cristo, o Deus filho encarnado.
Ao Deus filho encarnado, porque, o descreve como a imagem de Deus, portanto, creio, a partir da experiência que com ele tivemos: o Deus que nos fez ver Deus.
Cristo como a imagem de Deus...é a objetivação de Deus na vida humana, a 'projeção' de Deus na tela da nossa humanidade e a encarnação do divino no mundo dos homens (cf Masson, pg 98, n.1). A descrição é revelatória, mais do que ontológica. Ralph P. Martin
Entre todos os textos paulinos este é um dos que explicitamente afirmam a preexistência de Cristo: já existia antes da criação. E porque existia antes da criação, serviu de modelo para a criação toda. E não foi somente modelo, mas participou ativamente na criação. Não somente participou no passado, mas permanece princípio ativo para manter essa criação na existência, na unidade,
para organizá-la e conduzí-la a seu destino. José Comblin
Ao Deus filho encarnado, porque, o apresenta como primogênito, que, sugiro, é uma categoria soteriológica de Cristo, como em Rm 8.29 - "Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos." – uma vez que:
"Primogênito, longe de declarar que Cristo foi criado, salienta que Ele é o alvo de toda a criação com direito de primogenitura, i.e. 'herdeiro de todas as coisas'." Russell P. Shedd
Logo, o apóstolo o estaria delineando em seu mover redentor.
Por que toda a criação seria creditada ao Deus filho a partir do mistério da sua encarnação?
(1Pe 1:18-20) - sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo,
conhecido, com efeito, pré-estabelecido de fato – Henry Alford
antes da fundação do mundo, porém manifestado no fim dos tempos, por amor de vós.
Pedro parece informar que o derramamento do sangue de Cristo foi préestabelecido antes da fundação do mundo. O que significaria que antes que todas as coisas fossem criadas, o Deus filho fez uma entrega, o seu próprio sangue.
(Ap 13:8) - e adorá-la-ão todos os que habitam sobre a terra, aqueles cujos nomes não foram escritos no Livro da Vida do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo.
"'Desde a fundação do mundo'. Em harmonia com 1 Pe 1.18-21, ensina-se que o Sacrifício de Cristo fez parte do propósito divino antes da fundação do mundo. Os decretos e propósitos de Deus são tão concretos e reais como o próprio acontecimento (At2.23; Ef 1.4)." Russell P. Shedd
Em assim sendo, o que aconteceu, imediatamente, antes da fundação do mundo foi o decreto do sacrifício do Deus filho, o que significaria que, previamente a toda a criação, o Deus filho se assumiu como o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo! (Jo 1:29)
Seria esse o fator exógeno que explicaria a criação de todas as coisas, assim como a sua manutenção?
De fato, tal decreto justificaria o ato onisciente, pois, denunciaria que o Deus triúno se responsabilizou pela redenção da criação, daí poder criar um ser livre, mesmo sabendo que a tal liberdade se voltaria contra o seu doador.
Só valeu a pena criar porque antes que a criatura se voltasse contra o criador, este sacrificou-se por ela, para a resgatar.
O decreto em questão, também, teria força suficiente para manter a existência, uma vez que tal sacrifício mediaria a relação de um Deus santo com uma criação rebelada.
Se assim for:
1-os cordeiros imolados no velho testamento não só apontavam para o futuro como para algo acontecido antes do tempo e, portanto, sempre presente, pois, ato na eternidade;
2-há uma verdade sobremodo assombrosa no verso todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez. (Jo 1:3).
A Graça
Porque a lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo. - (Jo 1:17)
Estaria João informando que, assim como a lei foi comunicada por Moisés, a graça e a verdade foram comunicadas por Jesus Cristo?
Se assim for, a graça seria a origem do sacrifício?
para louvor da glória de sua graça, que ele nos concedeu gratuitamente no Amado, - (Ef 1:6)
Paulo parece completar: a graça não apenas foi comunicada por meio de Cristo, a graça estava em Cristo.
Por que em Cristo?
Porque nele temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados...(Ef 1.7)
A graça estaria, portanto, vinculada ao sacrifício do cordeiro.
Poderíamos, então, dizer, que graça é o favor que o sacrifício de Cristo, instituído na eternidade e manifesto na história, tornou possível; por justificar o ato onisciente da criação e a manutenção de um mundo que se tornou mal, assim como o seu resgate.
Parafraseando Paulo: pela graça todas as coisas foram criadas, mantidas e tornadas passíveis de resgate; e isto é dom de Deus.
O que tais considerações deveriam despertar na Igreja?
Gostaria de sugerir algumas:
1-gratidão: fazei -o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai. (Col 3:17)
2-nova perspectiva com relação ao sofrimento:
a- sofrimento já é efeito da graça em andamento, como um condenado à morte, que tem sua pena reduzida à prisão perpétua, num primeiro momento, e, mais tarde, é notificado que sua liberdade já foi providenciada, que, agora é só uma questãode tempo: ainda que com suor, obtêm-se o alimento – ainda que com dores, dá-se à luz filhos. E, mesmo o sofrimento vai ter fim. O que significaria que, se a postura frente ao sofrimento é de não murmuração, também, é de não conformismo. Penso que a reação deve ser de solidariedade; pois, mitigar o sofrimento humano é a obra de Deus. b- Deus reagiu à morte, devemos reagir, também, aliando-nos à graça. Lutando pela vida em todas as frentes. c- Desvinculação do sofrimento (enquanto estado cósmico) da questão da represália pelo pecado pessoal (ainda que o pecado traga consequências); é a morte, não o sofrimento que paga pelo pecado – e o cordeiro já a sofreu.
A graça de Deus na cultura
"Cultura é um jeito particular de ser gente" Rubem Alves
Se o prof. Rubem Alves está certo, para falar da graça de Deus teríamos de responder a antiga pergunta do salmista:
que é o homem, que dele te lembres? (Sl 8:4)
Voltemos ao início.
Gn 1:26, 27- Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; (...) Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou;
Esse texto marca uma mudança de ritmo e de forma na criação: até então Deus falava e tudo vinha à existência, na criação do homem temos, antecedendo-a, uma declaração de intenção e uma descrição.
Façamos o homem...
A teologia cristã entende que essa afirmação nos apresenta a Trindade, doutrina que afirma haver um só Deus em três Pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo, como declara G. W. Bromiley
Gosto de pensar nesse texto como uma declaração de intenção, é como se fosse o resultado de uma conferência entre as três Pessoas.
Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança;
Eis a descrição do projeto: o homem seria à imagem e semelhança de Deus, a Trindade.
O que significaria isto?
Segundo Derek Kidner, para alguns teólogos "imagem é a indelével constituição do homem como ser racional e como ser moralmente responsável, e a semelhança é aquela harmonia com a vontade de Deus, perdida com a queda". Ele, porém, diz que não há, no original, a partícula aditiva "e", de modo que os termos se reforçam (a palavra, então, seria imagem-semelhança). A imagem seria "expressão ou transcrição do Criador eterno e incorpóreo em termos de uma existência temporal, corpórea e própria de uma criatura – como se poderia tentar a transcrição, digamos, de um poema épico numa escultura, ou de uma sinfonia num soneto." O que, segundo Kidner , perdemos dessa imagem-semelhança, na queda, foi o amor, que recuperaremos quando for retomada nossa plena comunhão com o Senhor.
Algo, entretanto, penso que precisa ser considerado: se ser moralmente responsável e racional é ser imagem de Deus, então os anjos também não o seriam?
Ora, se Deus não poupou anjos quando pecaram (2 Pe 2:4)
Como os anjos poderiam pecar se não fossem moralmente livres; uma vez que pecar (pelo menos no ato primeiro) exige capacidade de escolha?
...reservando-os para juízo; (2 Pe 2:4)
Como qualquer ser pode ser julgado, se não for moralmente responsável?
Além do que, parece não haver dúvidas de que os anjos, também, são racionais, senão estariam impossibilitados de comunicar-se e de
arrazoar conosco, como fizeram, por exemplo, com Ló (Gn 19:10-22).
Se ser imagem-semelhança é ser transcrição do eterno em termos de existência temporais, os anjos, também, estão incluídos, pois, são criaturas e estão no tempo, pois, tiveram começo, ainda que o tempo, talvez, não lhes faça diferença. E, em ambos os casos, os anjos fiéis não perderam nada de sua criação original.
Entretanto, somente do homem é dito que foi criado à imagem e semelhança de Deus.
Gosto de pensar que esta imagem-semelhança inclui, além do já citado, algo que só é comum a Deus e a nós: a unidade.
"A última palavra hebraica da Shema (Dt 6.4,5) é echad, um substantivo coletivo, em outras palavras, um substantivo que demonstra unidade, ao mesmo tempo que se trata de uma unidade que contém várias entidades. Poderíamos citar um bom número de exemplos.(...) Em Nm 13.23 os espias pararam em Escol, onde 'cortaram um ramo de vide com um cacho de uvas'. A palavra que aqui aparece com 'um', em 'um cacho', novamente é echad, no hebraico. Mas, como é evidente, esse único cacho de uvas consistia em muitas uvas." Stanley Rosenthal
E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus os criou; macho e fêmea os criou. Gn 1.27 (RC).
Seriam, realmente, duas criações?
Então, formou o SENHOR Deus ao homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente. (Gn 2:7) Então, o SENHOR Deus fez cair pesado sono sobre o homem, e este adormeceu; tomou uma das suas costelas e fechou o lugar com carne. E a costela que o SENHOR Deus tomara ao homem, transformou-a numa mulher e lha trouxe. (Gn 2:21,22)
Macho e fêmea parecem ser uma criação só, pois, o barro e o sopro (que dá vida ao ser humano) só aparecem uma vez. O segundo ser não é uma segunda criação, é uma duplicação. Sendo que, no segundo ser, Deus fez desabrochar características que não fizera desabrochar no primeiro.
Este é o livro da genealogia de Adão. No dia em que Deus criou o homem, à semelhança de Deus o fez; homem e mulher os criou, e os abençoou, e lhes chamou pelo nome de Adão, no dia em que foram criados. (Gn 5:1,2)
Duas pessoas, um só nome. De fato, a mulher só ganhou o nome de Eva depois da queda: E deu o homem o nome de Eva a sua mulher, por ser a mãe de todos os seres humanos (Gn 3:20). E por que? Penso que só após a queda o macho teve autoridade para tal: e à mulher disse: Multiplicarei sobremodo os sofrimentos da tua gravidez; em meio de dores darás à luz filhos; o teu desejo será para o teu marido, e ele te governará (Gn 3:16). Se Deus condenou a mulher a essa condição subserviente ao homem como consequência da queda, é de se supor que antes não era assim, isto é, a relação entre ambos não era de autoridade; era, quero crer, de unidade.
O homem à imagem e semelhança de Deus, sugiro, é um ser coletivo. Quando Deus chamava: Adão! Macho e fêmea se voltavam para falar com Ele.
"Em Gn 2.24, Deus (...) instruiu marido e mulher a tornarem-se 'os dois uma só carne', indicando que aquelas duas pessoas unir-se iam, formando perfeita e harmônica unidade. Em tal caso, novamente a palavra hebraica é echad." Stanley Rosenthal
Se Deus é uma família, que criatura poderia expressar sua imagem-semelhança senão se constituísse, também, numa família?
Se Deus é uma unidade-comunhão como uma criatura que não se constituísse noutra unidade-comunhão poderia ser chamado de sua imagem-semelhança?
Me parece que o projeto divino passava estritamente pela unidade: criou um casal apenas, logo, uma só família; criou-os tendo a si como modelo: o que caracteriza a trindade é o amor, vínculo da perfeição, isto é, que une perfeitamente; logo, criou-os para, a exemplo da trindade, amarem-se com esse amor que unifica. Criou-os para viverem em unidade. Criou-os como unidade. Se não tivéssemos caído, seríamos bilhões, talvez, entretanto, à semelhança da trindade, nos amaríamos tanto que, apesar de muitos, seríamos um só homem: o homem à imagem e semelhança de Deus.
Não seria por aí o caminho de perceber a atuação da graça de Deus na cultura?
Gosto de pensar que a graça de Deus se manifesta nos elementos gregários de uma dada cultura.
Se é fato que o homem que Deus criou é comunitário, então, em todo o elemento cultural que leve o ser humano à consciência do outro; ao senso de pertencimento; à celebração comunitária; à solidadriedade; à justiça deverá, em alguma medida, ser fruto da graça de Deus – a graça que mantêm todas as coisas.
E plantou o SENHOR Deus um jardim no Éden, na direção do Oriente, e pôs nele o homem que havia formado(Gn 2:8).
Não é curioso que após ter comunicado à sua criatura a relação de domínio que teria sobre o planeta, Deus o coloque num jardim?
Parece-me que, ao fazer isto, Deus propõe um modelo. O domínio dar-se-ía não pela subjugação mas pela interação.
Uma vez que jardim manifesta harmonia e superação, pois a beleza é resultado de interação tal, que a beleza do todo é maior que a soma da beleza das unidades.
Dessa forma deveria ver-se como um maestro, cuja responsabilidade seria administrar de tal maneira seu "habitat", que o mesmo se tornasse qual jardim, onde impera a cooperação e a harmonia, o que faz com que cada unidade se supere pela associação com o todo.
Seria, portanto, em algum nível, ato da graça, quando, numa dada cultura, se privilegia a interação homem/natureza.
Sinais de Deus
"E, na verdade, cuidei que vós outros, Senhores, com todos os teólogos, não somente assegurais que a existência de Deus pode ser provada pela razão natural, mas também se infere da Santa Escritura que o seu conhecimento é muito mais claro o que se tem de muitas coisas criadas e que, com efeito, esse conhecimento é tão fácil que os que não o possuem são culpados. Como é patente nestas palavras da Sabedoria, capítulo 13, onde é dito que 'a ignorância deles não é perdoável: pois se seu espírito penetrou tão a fundo no conhecimento das coisas do mundo, como é possível que não tenham encontrado mais facilmente o Soberano Senhor dessas coisas?' E aos Romanos, capítulo primeiro, é dito que são indesculpáveis. E ainda no mesmo lugar, por estas palavras: 'o que é conhecido de Deus é manifesto neles', parece que somos advertidos de que tudo quanto se pode saber de Deus pode ser demonstrado por razões, as quais não é necessário buscar alhures que em nós mesmos, e as quais nosso espírito é capaz de nos fornecer." René Descartes
Descartes afirmava, julgando interpretar as escrituras, que Deus se deu a conhecer na natureza, bastando uma inspeção do espírito para captá-lo. Assim ele justificou suas "meditações".
Em que pese a ousadia de Descartes, seria de se esperar que um Deus gracioso deixasse marcas de sua presença.
Richardson conta mais 25 histórias fascinantes, que mostram que a semente do evangelho foi deixada por Deus em cada cultura do mundo. Ele chama este tipo de revelação geral de Deus, 'O Fator
Melquisedeque', usando o nome do sacerdote a quem Abraão prestou homenagem no livro de Gênesis. Os Editores
"Richardson argumenta que Deus deixou um testemunho profundo, que pode e deve ser aproveitado como ponto de contato pelo missionário." Richard J. Sturz
Creio que é esperado de um Deus que quer apresentar-se, que sua graça se manifeste em cada cultura, criando pontos de contato desta com o evangelho.
Tal ação da graça, creio, opera sensibilidade ao belo, à ternura, ao amor, à vida, assim como algum nível de revelação.
No que tais ponderações deveriam afetar a interação da igreja com as diversas culturas?
1- Na abordagem à cultura. Entendo que, sob tais prismas, a aproximação à cultura tem de partir de uma perspectiva positiva: a ação da graça na mesma. Numa busca, portanto, de pontos de contato. 2- Na contextualização. Nesses parâmetros, contextualização deixa de ser o uso sincrético de seus símbolos espirituais, para tornar-se o reforço do que há de divino na cultura em questão. 3- Ao invés do juízo, entra em ação a compreensão da cultura em sua complexidade. 4- Na co-beligerância. Uma vez compreendida a ação da graça no despertar da consciência de justiça, solidariedade, etc; a igreja deveria dispor-se a envolver-se em toda a causa pró emancipação do homem, tornando-se parceira dos que, pela graça divina, estão sendo despertados para mitigar o sofrimento humano. 5- Na responsabilidade ecológica. A Igreja deveria estar à frente da luta ecológica, no sentido de mitigar o sofrimento imposto à natureza. Seguindo o modelo do jardim.
A graça de Deus na sociedade e na economia
"porque se apresenta como um dever-ser, como o projeto histórico de Deus." Hirata
Falar, penso, nesse tema é falar do reino de Deus. O reino como utopia é a graça nos dando direção.
"Buscar o reino e a justiça de Deus, significa trabalhar para mover o mundo na direção das prioridades do reino" Howard Snyder
Parece-me que há três perguntas que humanidade faz: quem somos? Como administrar a riqueza? Como viver juntos?
O reino, creio, responde-as: de Deus e para Deus; solidariedade; fraternidade.
Tais respostas colidem com o sistema que, para respondê-las gerou um sem número de filosofias e religiões; um sem número de teses econômicas; um sem número de propostas de organização da sociedade.
A graça deu os princípios, caberia-nos dar-lhe concreção histórica.
"Assim sendo, o peso histórico do reino de Deus, que vem a ser a realidade mais inclusiva, elimina o papel platonizante que tinha a escatologia tradicional que podia dar-se ao luxo de condenar a história e a matéria como realidade inferior. Doravante, a escatologia, que era entendida antes como doutrina sobre o final dos tempos, terá uma relação necessária com a história. A recuperação do sentido histórico do reino de Deus resgata o caráter necessário da ação humana na construção desse reino." Samuel Silva Gotay
Daniel 2. 31-45, apresenta o reino como uma pedra solta por mãos não humanas que se choca com a estátua, destruindo-a de forma cabal.
Penso que estátua representa não só a sequência escatológica dos reinos, como, também, toda a tentativa humana de resolver o dilema da humanidade sem levar em conta a vontade e a realidade de Deus, e que o fato de aparecer como uma estátua revela o seu caráter idolátrico. O reino é a resposta de Deus ao citado dilema, que confronta e destrói a solução idólatra. Tal confronto, quero crer, concede necessária historicidade ao reino.
Na história da teologia da libertação, a obra coletiva – A luta dos deuses – é , sem dúvida, um marco importante no tratamento da idolatria como um tema central da teologia. Neste livro, Pablo Richard defendeu, a partir da afirmação de 'o capitalismo não é ateu, mas sim idólatra', a idéia de que 'o problema de Deus só pode ser racionalizado teologicamente a partir de uma perspectiva de confronto com o sistema religioso do capitalismo moderno'. Na introdução ao livro, a Equipe Dei afirmava que 'mais trágico que o ateísmo é o problema da fé e da esperança nos falsos deuses do sistema' e que a fé no Deus libertador 'passa necessariamente pela negação e a apostasia dos falsos deuses. A fé torna-se antiidolátrica.' Por isso concluíram a introdução dizendo que 'o problema dos ídolos da opressão e da busca do Deus libertador adquire hoje uma nova dimensão, tanto na tarefa evangelizadora como na tarefa política. É aí que a teologia da libertação encontra um de seus desafios mais fecundos.' Em outras palavras, a teologia numa sociedade capitalista
só adquire relevâcia histórica se se defrontar com a idolatria vivida no capitalismo." Jung Mo Sung
Gostaria de, como ilustração, apresentar um possível desenvolvimento dos princípios numa situação dada, no caso, nossa realidade nacional.
Jesus Cristo, segundo o registro de Mc 10.42-45"(blh), disse: "Vocês sabem que aqueles que são considerados governantes das nações as dominam, e os seus grandes exercem poder sobre elas. Não será assim entre vocês. Pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vocês deverá ser servo; e quem quiser tornar-se o primeiro deverá ser servo de todos. Pois nem mesmo o Filho do homem veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos".
Jesus Cristo preconizou uma nova sociedade, cujo poder governamental seria exercido por meio do serviço a todos. Uma sociedade de cidadãos, onde todos seriam cidadãos, pois, só uma sociedade em que o governo assume a sua vocação de servo, de todos, é que a cidadania floresce.
Na sociedade do Cristo, o poder deveria ser exercido dessa forma para que a sociedade pudesse cumprir a sua vocação, qual seja: uma sociedade onde o uso da terra fosse regulamentado, tendo em vista o bem de todos, pois, como disse o profeta Isaías: Deus não admite que alguém possa comprar casa sobre casa e terra sobre terra até ser o único morador do lugar. Na sociedade do Cristo a terra teria de ser repartida entre todos, pois é para todos. Este tipo de coisa só acontece quando o governo está a serviço de todos. uma sociedade onde a riqueza fosse distribuída com eqüidade, pois, como disse o apóstolo Paulo: Deus quer quem colheu demais não tenha sobrando, e o que colheu de menos não tenha faltando. Uma sociedade com consciência de coletividade. O que só acontece quando o governo está a serviço de todos. uma sociedade onde o trabalhador usufruísse da riqueza que produz, pois, como está escrito: o trabalhador é digno de seu salário e mais, não se pode amordaçar o boi que debulha o milho, isto é, aquele que produz deve ser o primeiro a usufruir do que produziu. Uma sociedade de trabalhadores para trabalhadores. O que só acontece quando o governo está a serviço de todos. uma sociedade onde a criança fosse prioridade, pois, Deus não quer que nenhum dos pequeninos se perca, e ameaça com duras penas a sociedade que desviar as crianças de sua vocação divina: vocação à saúde; à educação; à segurança; à longevidade; ao emprego – enfim uma vida que possa ser celebrada. O que só acontece quando o governo está a serviço de todos. uma sociedade onde os orfãos e as viúvas, isto é, os que tudo perderam, não ficasssem desamparados, pelo contrário, parte da produção seria destinada exclusivamente para estes, para que não
houvesse miséria na sociedade. Uma sociedade onde todos desfrutassem do direito à dignidade. Uma sociedade de cidadãos, pois, só onde há dignidade há cidadania. uma sociedade onde o idoso fosse referencial de sabedoria, nunca um fardo, pois, na bíblia, o idoso é o conselheiro que ajuda o jovem na sua caminhada e, por este é visto como um mentor, como alguém que é guardião dos valores que devem nortear a sociedade. Alguém que deve ser honrado, o cidadão por excelência, pois construiu e legou para as gerações que o sucedem.
Na sociedade preconizada por Cristo o conjunto de cidadãos é o estado. E todos são cidadãos. Por isso, o governo estaria a serviço de todos. E estar a serviço significaria que o governo estaria sob o controle da cidadania, E porque o governo estaria sob o controle, os direitos humanos seriam respeitados. E onde os direitos humanos são respeitados há previdência, isto é, o futuro do cidadão estaria assegurado, ou seja, o cidadão seria o beneficiário da riqueza que produziria. E mais, previdência seria um conceito que abrangeria não apenas a saúde ou a velhice, mas a escola, a segurança, o emprego, o lazer, enfim, tudo o que dá qualidade à vida. Nesta sociedade, o governo seria um agente previdenciário, e o futuro seria, não como algo que quanto mais remoto melhor, mas como uma sucessão de presentes, onde cada dia traria a garantia de um futuro assegurado.
No Brasil estamos com sérios problemas na questão da previdência e dos direitos humanos, porque o Brasil não é uma sociedade de cidadãos. Há cidadãos, mas são poucos, o resto é o povo.
Os cidadãos são os que detêm o poder econômico, são os que financiam a classe política, eles é que são representados, é a quem o governo serve. Para tais não há problema de previdência ou de respeito aos direitos humanos, pois, todos os seus direitos são respeitados.
Como já foi propalado, vivemos o "apartheid" no Brasil. De um lado os detentores do poder econômico, doutro lado o povo. Dizem aos membros do povo que eles, também, são cidadãos, porém, é uma inverdade, pois, o povo não tem direito ao voto, tem a obrigação do voto, e vota só para legitimar o que os poucos cidadãos já decidiram. O povo vota, mas, não veta, e quem não tem o poder de veto, de fato não exerceu o direito do voto, porque não tem como obrigar os eleitos a serem os representantes que deveriam ser, consequentemente nunca terá seus direitos respeitados. Quem respeita gente que só serve de massa de manobra? E mais, o voto do povo tem sido fruto de grandes campanhas de marketing, que o leva a sufragar alguém com quem não tem a mínima identificação, de quem nunca mais saberá nada, até que, através de outra campanha de marketing, seja chamado a legitimar os desejos da classe dominante.
Durante o mandato de seus pretensos representantes, uma vez que constitui a maioria da população, o povo terá de engolir falácias de todo o tipo, tais como: 1- A solução é a privatização. Solução do que ninguém explica. Solução para a saúde da empresa, certamente não é, pois, a solução para a saúde de qualquer empreendimento é a boa administração. 2- Todo subsídio é danoso, empresa estatal só pode cumprir o seu papel social com eficiência, se for lucrativo. Nunca é dito que empresas estatais, com estratégico papel social, não têm de ser eficientes, têm de ser eficazes, não é uma questão de fazer "certo" as coisas, mas, sim, de fazer as coisas certas, isto é, de cumprir o seu papel social. Por exemplo: o trabalhador não paga imposto para que a empresa municipal de transporte urbano dê lucro, mas para que possa ser transportado com dignidade. 3- Que o grande problema é a inflação. Nunca é o desemprego, a miséria, o analfabetismo, os baixos salários, a fome. E que para resolver este grande problema tem de haver mais desemprego, mais salários baixos, mais miséria e mais fome. O povo cede e problema nunca se resolve. Quando parece que agora vai...surge uma nova crise e mais sacrifício. 4- Que não há dinheiro para os programas sociais e, muito menos, para a previdência social. Que o fardo que a previdência carrega é por demais elevado. Mas como pode ser por demais elevado se o trabalhador apenas quer aquilo pelo que pagou, e sempre recebe muito menos? Por que não é dito que num órgão onde a corrupção caminha de mãos dadas com a impunidade não há dinheiro que cheque? Que o trabalhador paga, porém, a sonegação desvia o dinheiro e não há combate sério a esta? Que num país em que as grandes fortunas não são taxadas, em que o capital especulativo tampouco é devidamente taxado, assim como os lucros astronômicos das instituições financeiras, nunca haverá mesmo recursos para projetos sociais?
Que fazer diante disso? É preciso um milagre. Não o milagre sobrenatural, mas o milagre da conscientização, o milagre que abre os olhos. Cada trabalhador, cada marginalizado tem de se conscientizar de que povo é uma categoria que não existe, ou se é cidadão ou não se é nada. Cada um destes tem de se conscientizar de que para que os seus direitos sejam respeitados, para que o governo não lhe engane com falácias, ele tem de fazer-se cidadão, ou seja , tem de se ver como alguém a quem o governo tem de servir, tem de transformar a obrigação do voto no exercício do direito de votar, votar só naqueles sobre quem tem o poder de veto, e transformar isso em lei. A categoria povo tem de ser substituída pela categoria sociedade – sociedade de cidadãos. Sociedade onde a lei é para todos; que tem um projeto de estado – estado previdenciário. A recentíssima história tem nos feito ver, que onde a consciência de cidadania triunfa, as forças progressistas são sufragadas e, consequentemente, desaparece o povo e surge o cidadão e a sociedade. Que assim seja em Nome do Senhor Jesus Cristo.
A tarefa da Igreja é tornar-se instrumento da graça em toda a sua abrangência. Penso que, neste caso, ser agente da graça é ser postuladora e conscientizadora das políticas do Reino de Deus.
Creio que a Igreja Brasileira precisa deixar de apenas usufruir a graça para tornar-se propagadora da graça. Em cada um dos quesitos levantados há o que fazer se a igreja brasileira quiser, de fato, ser agente da graça em nosso território. Ariovaldo Ramos - Teólogo e Pastor da Igreja Cristã Reformada e Missionário da SEPAL.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Homenagem a papai - Quem não o conhecia?


Edson de Brito Nery - O Curinga.

Por Cláudia Nery em 04/08/2009

Para os que não o conheciam, se quisessem saber quem era, era só dar como referência aquele senhor que passeava com o cachorrinho branco, que acelerava o fusquinha pra lá e prá cá e que era torcedor fanático do Galo. Todo mundo o conhecia. Era figura popular no bairro, e com certeza um dos motivos de sua popularidade era sua simpatia.

Pois é Curinga! Estamos reunidos hoje aqui nesta igreja para rezar pelo senhor e homenageá-lo e esta homenagem não poderia ser em outro lugar, pois foi nesta igreja que o Sr. foi batizado, casou-se, fez bodas de prata, e bodas de ouro.

Nós que somos da família e amigos nunca vamos esquecê-lo, e deixar de sentir saudades, mas algumas coisas com certeza farão lembrar do senhor e deixar nosso coração apertado .

Ficaremos com o coração apertado quando ouvirmos alguém cantando a música “ aos pés da santa cruz”, e não ouvirmos sua resposta, as vezes mal criada.

Sentiremos o nosso coração apertado quando acontecer um gol do Atlético e não ouvirmos o grito de Galooo, as vezes até nos dando susto.

Sentiremos o nosso coração apertado quando ouvirmos o som de uma trompa, instrumento musical que o senhor. tão bem sabia manejar.

Sentiremos o nosso coração apertado ao ver a beleza de uma orquestra e seu maestro..

Várias são as coisas que nos farão lembrá-lo e nos farão emocionar, porém nada nos deixará mais emocionados do que saber que não temos mais sua presença em nosso convívio.

Ao mesmo tempo alegra-nos saber que nossa memória está repleta de boas lembranças do senhor.

Desejamos que o senhor possa desfrutar das Glórias de Deus, e que seu descanso seja eterno.

É Seu Curinga, o senhor vai deixar muita saudade!

De sua família e amigos

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Nem homo nem hetero, mas bi.

Por Ester B.

O mundo anda realmente mudado! Alguns anos atrás o escândalo era a homossexualidade. Eram os rejeitados, escorraçados por todos de boa família. Nem chegavam a ser humano, mas uma aberração da natureza. Tipo alguma coisa como o Homem Elefante. Como os tempos mudaram! Lutam daqui e lutam dali e agora até o governo interfere na questão com leis que amparem e garantam o direito desse grupo de pessoas.

Hoje os homossexuais podem ou querem exibir com orgulho sua opção. Ai daquele que disser que é uma doença, disturbio emocional, ou aberração como início.

Grades neles. A lei garante.

Hoje o problema é ser hetero e você poder exibir com orgulho sua prefêrencia. Cuidado!!! Isso é preconceito!

Me vem a ideia daquilo que nos garantia. A nossa figura por si só falava. Se homem ou mulher. Não era preciso luta, não havia dúvidas. Era olhar para o individuo e lá vinha a certeza: é homem ou é mulher. Hoje a gente olha e bate a dúvida: que será? Meninos que parecem meninas e moças que insistem em parecer rapazinhos.

Vivemos em um mundo de incertezas. Incertezas que passam da nossa vida financeira, emocional e pasmemos: sexual. Agora nem homo, nem hetero, mas bi.

Claro! Assim facilita tudo. Voce não precisa nem se definir. Basta agir conforme a vontade do momento. Fico com quem eu quero e ninguém tem nada com isso. E então? Como ficamos? Já que nessa terra não temos a quem prestar contas, a quem daremos satisfação?

Não existem padrões. Existem leis para garantir isso ou aquilo. Todas as minorias querem seus direitos garantidos e isso na maioria das vezes em detrimento de uma grande maioria.

Cuidado! Ao abrir sua boca você não está mais manifestando sua opinião. Você está ou não manifestando um tipo de preconceito. Olho vivo! Alguém pode estar pronto a te delatar.

Ai!Ai! "Mato tem olho e parede tem ouvido". Não posso agir de acordo com minha consciencia, preciso me curvar ao que os outros querem.

Estamos vivendo um novo tipo de injustiça. Aquela que afeta nossa liberdade de consciencia e não os meus atos. Querem policiar o meu modo de viver. Que horror!!! Eu não sirvo para esse mundo!

Bom voltando: nem homo, nem hetero, mas bi. Já perguntaram uma vez, para onde caminha a humanidade?

Para mim: rumo ao fim. Vivemos o caos, vivemos no caos. Estamos confusos. Não temos sequer um pedacinho de madeira no meio do oceano para nos agarrarmos e ficarmos a deriva, esperando.



A Bíblia tem uma palavra a respeito da opção sexual do ser humano.Se quiser saber mais leia as seguintes referências: Romanos 1:26-27; 1 Corintios 6:9-10; Hebreus 13:4; 1 Corintios 10:13; Tiago 4:7-10. Essas referências te levarão a outras e se vc quiser poderá se aprofundar no assunto. Um grande abraço.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

A historia do homem que queria ser jovem para sempre


Este artigo está no Blog da revista Ultimato(http://www.ultimato.com.br).


Publicado em ( EUAvisei) por Áquila Mazzinghy às 11:11Michael já não é mais. Embora seu corpo frio e sem vida esteja ainda na terra dos viventes, ele já não é mais. A mídia aqui nos EUA não fala em outra coisa. Se estou sabendo da situação política em Honduras, das bombas atômicas na Coreia do Norte ou da violência dos últimos dias na China, posso assegurar-lhes que não foi por meio da TV americana.

O curioso é que falam que a morte de Michael Jackson nos pegou “de surpresa”. A mim, pelo menos, não pegou. Não consigo ver um Michael senil, enrugado e de bengalas. Michael gostava de ver o jovem no espelho – como ele mesmo colocou em “The man in the mirror” –, mas não suportaria ver-se velho. Iria tentar de todas as formas esticar seu rosto, já deformado por inúmeras plásticas. Contudo, não resistiria novamente ao fio da navalha.
Michael quis ser jovem para sempre, assim como Peter Pan. Ergueu seu castelo em Neverland, a “terra do nunca”, e lá fez seu show. Se todas as crianças crescem, Peter Pan não. Michael também não quis crescer, e quando achava aquela vida sem graça e sem holofotes, corria todos os perigos, perdia todos os sentidos. Cazuza tinha razão… “vida louca, vida breve”. Michael dispensou as metáforas e tornou-se a própria metonímia; tornou-se thriller.

Se quem morre jovem são os bons, não sei. Contudo Michael “se cansou de tanta babaquice, tanta caretice”. Sua morte não é uma surpresa. Mesmo na terra do nunca a realidade às vezes se mostra. Michael agora está na terra do sempre, do eterno… tomara que não em companhia do Capitão Gancho.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

O Pequeno Principe - Antoine de Saint Exupery

Olá amigos
Esse livro é para mim um dos mais queridos. Tenho um exemplar desde meus dezoito anos, li e nunca mais parei de ler. Agora achei essa reliquia na internet. Estou deixando aqui como presente para meus os amigos e leitores nesse dia do amigo. Abraço a todos.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Um mundo em uma lágrima


O caos tomou conta de nós seres humanos. Invejas, discordias, mal- querer, filhos contra pais, maridos contra mulheres e vice-versa. A Bíblia nos fala de todas essas coisas, por isso as vezes me espanto quando ao meu redor vejo surpresa em relação a esses fatos.
Tudo isso anda acontecendo, é verdade, mas eu ando em estado de graça. Ando feliz por nada e por tudo. Uma alegria infinita que vem de dentro de mim e não quer sair. As vezes quando a gente apanha muito da vida e chega o momento da paz, a gente nem acredita. Paro e penso: isso é plenitude e plenitude não é para esse mundo. Será que estou morrendo? Será que Jesus está vindo me buscar? Não sei. Me sinto mais do que feliz nesse mundo caótico, sem rumo.
Será que uma alegria assim tão grande nos permite derramar algumas lágrimas? Pois é! De repente paro e me vem a mente alguns rostos amigos. Amigos que sofrem porque estão em conflito entre o que aprenderam e o que estão fazendo. Que sofrem porque não conseguem perdoar, que sofrem por não saber a decisão mais certa a tomar e vai por aí a fora. Que sofrem pelo pecado que não conseguem abandonar e nem sabem que é pecado.
Também em meio a tudo a isso um pouco de saudade de pessoas que entram e saem de minha vida.
Me vejo com uma vontade imensa de chorar. Falo com alguém. As lágrimas teimam em sair e eu não quero chorar na frente dos outros. Por isso estou aqui. Será que alguém entende que mesmo alegre é possivel sentir essa tristeza que estou sentindo?
Gente! Êta bicho contraditório! Essa tal de racionalidade as vezes deixa a gente confusa! Bom. Isso é apenas um desabafo. Vou parando por aqui. O Senhor abençoe a todos e a mim também.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Meditações Diárias

4 de Maio

"Ora, àquele que é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos, ou pensamos, conforme o seu poder que opera em nós..." Efésios 3.20

Quando os fardos se tornam pesados demais para nós, só há uma solução: Deus. Deus pode tudo! Mas a ilimitada onipotência de Deus somente é crida e compreendida de maneira limitada, e isso por incredulidade. Mas quando a fé viva se direciona ao Todo-Poderoso, que tudo pode sem limites, não há barreiras na consecução das grandes e maiores bênçãos para aquele que crê – pois Deus pode! Seu ilimitado poder não pode ser descrito em sua profundidade com palavras humanas. Ao analisar o versículo acima, percebo: Deus pode! Ele pode tudo; Ele pode mais que tudo; Ele pode infinitamente mais que tudo. Mas: Deus ainda pode muito mais, ou seja, "infinitamente mais do que tudo quanto pedimos, ou pensamos..." Ele pode realizar em sua vida coisas que em sua atual situação você nem é capaz de imaginar. Talvez você diga: eu não experimento a ajuda do Senhor, tudo está tão difícil. Por que será? Resposta: o poder de Deus opera em nós e por meio de nós segundo a medida da fé: "...conforme o seu poder que opera em nós." Por isso o Senhor Jesus disse: "Se podes! tudo é possível ao que crê."

Extraído do livro "Pérolas Diárias" (de Wim Malgo)

domingo, 3 de maio de 2009

Meditações Diárias


Extraído do livro "Pérolas Diárias" (de Wim Malgo)
3 de maio

"Desperta, ó tu que dormes, levanta-te de entre os mortos, e Cristo te iluminará." Efésios 5.14

Você caiu no sono espiritual? Isso se nota se você percebe ou não a miséria na Igreja de Jesus e a miséria no mundo. Muitos cristãos adormecem e nem se dão conta do que acontece ao seu redor; estão cegos e mudos ao mesmo tempo. Usando termos bíblicos, eles se tornaram "ricos e abastados". Assim diz o Senhor ressuscitado: "Pois dizes: Estou rico e abastado, e não preciso de cousa alguma, e nem sabes que tu és infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu." Desperte! Ser despertado significa ver nossos próprios pecados assim como Deus os vê – e isso é terrível! Nesse momento vem o abatimento interior e o arrependimento, e é daí que resulta o verdadeiro despertamento.

Mas também precisamos saber o que um despertamento não é. Um despertamento não é um milagre de Deus, pois, nesse caso, nós não teríamos nenhuma responsabilidade e tudo dependeria unicamente do Senhor. A responsabilidade para um despertamento na família e na Igreja está com cada um de nós pessoalmente. A questão é se nós o desejamos ou não. Mas essa é a vontade de Deus!


sexta-feira, 1 de maio de 2009

Meditação

Extraído do livro "Pérolas Diárias" (de Wim Malgo) - 1 de Maio -

"Buscar-me-eis, e me achareis, quando me buscardes de todo o vosso coração. Serei achado de vós, diz o Senhor..." Jeremias 29.13-14

Deus quer dar um avivamento ainda hoje. Muitos cristãos estão preocupados com essa questão, sobre a qual há distintas opiniões. Existem pessoas excelentes e consagradas a Deus que pensam que o Senhor não mais manda um avivamento hoje em dia. Mas eu creio de todo o coração que um despertamento é a única preparação correta da Igreja de Jesus para a vinda do Senhor. Porém, temos efetivamente um motivo para supor que é vontade de Deus enviar um avivamento? Sim, pois a Bíblia promete avivamento!

É sempre fundamental que se descubra a vontade de Deus, inclusive para a nossa própria vida, pois uma pessoa somente pode ser feliz quando vive na esfera e no âmbito da vontade de Deus. É possível perder o melhor que Deus quer nos dar quando, por desobediência, nos recusamos a fazer a vontade de Deus. Como Deus nos revela a Sua vontade? Pela direção do Espírito Santo. O próprio Senhor Jesus disse que o Espírito Santo nos guiaria a toda a verdade. Todos aqueles que, de fato, quiserem se deixar dirigir serão guiados por Ele. O pressuposto para isso é que você queira fazer a vontade do Senhor a qualquer preço. Assim você nunca vai errar, pois o Espírito de Deus o guia a toda a verdade.

terça-feira, 24 de março de 2009

A subversão está no sangue

OPINIãO - Revista Ultimato
Bráulia Ribeiro

Fui criada no sopé de uma favela belorizontina. Meu pai e minha mãe se conheceram na Escola Guignard como alunos do mestre. A paixão em comum, que era a arte, depois se transformou em muitas mais; os pobres, a esquerda política, a literatura, a imprensa e, claro, os sete filhos que geraram juntos. Minha infância se pareceu com a da família descrita por Orígenes Lessa em “O Feijão e o Sonho”, só que sem o feijão. O Sonho e o Sonho viviam pelos ideais que acreditavam em plena subversão ao sistema.
Em nossa vida um dia nunca era igual ao outro. Meu pai escapou por pouco de ser preso e exilado pela ditadura, viu os jornais em que trabalhou serem submetidos à censura prévia e depois depredados pela repressão policial, viu seus amigos desaparecerem e até adoeceu de desespero existencial. Minha mãe, extraída da carreira de pintora expressionista pelas demandas da maternidade, conseguiu ser mais prática; abrigava pobres em casa, escolarizava crianças da favela, além de escrever, pintar e cuidar que meu pai se mantivesse próximo da realidade.
Aos 16 anos tive um encontro emocional e sobrenatural com a realidade do evangelho. Este encontro me conduziu a terríveis conflitos existenciais. A sementinha nova da fé parecia não resistir às investidas cruéis da razão. Era frágil demais, “des-argumentada”, “des-científica” e, infelizmente, reacionária demais. Aos 17, no entanto, encontrei um grupo que vivia uma utopia próxima da que meus pais haviam sonhado, só que movido à fé cristã. Foi aí que minha alma se encontrou com minha razão e a fé me pôde se tornar concreta. Desde então vivi na JOCUM (Jovens com uma Missão), ou pelo menos pensei viver, bem perto do radicalismo socialista de meus pais. Anos demais, quem sabe; alguns extremamente distantes de qualquer realidade, alienados demais pela utopia gospel da sociedade alternativa, outros anos oprimidos pela realidade inexorável do sistema.
Aprendi nesta jornada que o verdadeiro cristianismo é mais subversivo que qualquer revolução política. Meus pais queriam mudança. Não se conformavam com os problemas e os erros de seus pais, queriam uma sociedade mais justa, queriam liberdade e igualdade para todos. Não pensavam eles na época que o próprio humanismo que os consumiu trabalharia contra os ideais humanos.
Não caberia no coração de meu pai a frieza de se descartar embriões sem uso e fetos inconvenientes ou com defeito. Ainda estava fresco na memória de sua geração o horror que a eugenia produziu durante a Segunda Guerra. Apesar de agora ser quase senso comum, não fazia parte de suas convicções a ideia de que a consciência social nos obriga a ter menos filhos, ou de que a liberação do aborto pudesse ser uma solução para os problemas socioeconômicos atuais ou, eufemisticamente, um mero problema de saúde pública. Por sua origem católica, meu pai e minha mãe acreditavam que a vida humana tinha valor. Favelados, classe média, crianças pobres ou ricas, todos teriam de ter direito aos mesmos direitos, afinal este é o ideal humanista supremo. Vida humana é sempre bem-vinda e deve ser protegida.
Mesmo durante o Iluminismo, quando os valores cristãos começavam a ser mal-afamados e perseguidos, ainda a noção do valor intrínseco do ser humano tinha de ser apoiada em uma metafísica superior à ciência, a qualquer arrazoamento meramente humanista. O ser humano tem valor em si mesmo porque algo superior a ele lhe atribui valor. A linguagem permaneceu religiosa. A noção que chamamos de “Imago Dei”, (somos todos, não importa a cor, o credo ou a condição social, feitos à imagem de Deus) é indispensável para estabelecer igualdade entre os seres humanos. Qualquer coisa fora dela deixaria dúvidas quanto à profundidade e à amplitude desta declaração.
Certa vez, Vácilav Havel1 fez um discurso dizendo que o maior desafio político do século 21 seria fazer com que os Estados soberanos do mundo reconhecessem limites em sua soberania, e se submetessem a uma lei superior baseada no Código Universal de Direitos Humanos. Em suas palavras: "Eu sempre me perguntei por que seres humanos têm direitos quaisquer. Porém, sempre chego à conclusão de que a noção de direitos humanos, liberdade humana e dignidade humana tem suas raízes mais profundas fora do âmbito físico. Descubro que não existe resposta possível no mundo perceptível. Estes valores só têm razão de ser na perspectiva do infinito e do eterno. Concluo minha palestra com a declaração de que enquanto o Estado é uma criação humana, seres humanos são criação de Deus”.
Qualquer outra fé além da cristã deixa dúvidas sobre este valor essencial. É coerente com as pressuposições da Nova Era, ou do hinduísmo, presumir que matar aleijados, sejam fetos ou adultos, é um favor que se faz àquele que por mau carma não se encarnou da maneira correta. É coerente com a ciência a serviço do deus capital sacrificar vidas humanas desfavorecidas na África ou em outros países pobres, como sugerido no filme "O Jardineiro Fiel", para beneficiar o bem maior: o conhecimento a ser adquirido pelas sociedades mas ricas. É coerente com a escalada da eugenia pensar, como Hitler, que eventualmente descobriremos os genes da "raça" ideal, e enquanto isto temos liberdade de matar os embriões que não nos servem, os bebês concebidos que nos sejam inconvenientes.
Quando me reuni com membros do Comitê Nacional de Enfrentamento a Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes, descobri que o slogan nacional para o combate do abuso sexual é: “Direitos sexuais são direitos humanos”. Também descobri no site da rede que a agenda do governo desde 2008 não é mais defender as crianças vítimas, mas promover uma nova noção de moralidade em que o sexo entre crianças e adultos poderá ser entendido como legítimo e consentido. Vendo isto percebo o quão longe estamos da sublimidade moral dos direitos humanos. O Papai Noel virou Bicho Papão. Reduzimos a noção de direito à escravidão à sexualidade perversa de alguns. Em nome da justiça social sonhada pelos intelectuais da época de meu pai o governo perverte, torce e profana o direito, os valores da família e o compromisso com a moral que deveria ser a própria razão de ser do governo. A sexualização precoce e irreversível das crianças as levam à condição de objeto a ser usado pelos ideólogos da máquina lasciva do governo PT, sem nenhuma vergonha, sem nenhuma responsabilidade moral.
Enquanto hoje leio cristãos, pastores e teólogos defendendo o aborto como mecanismo de justiça social, o divórcio como um serviço à felicidade pessoal, altar no qual muitos cristãos sacrificam a sua fé, eu oro para continuar livre. Livre para ainda pensar do jeito de Deus. Livre para promover a subversão dos valores da sociedade atual, enfatuada de si mesma, doente. A subversão, meus amigos, está no sangue. Não no sangue de meus pais que me corre nas veias, mas no sangue de Cristo, que nos liberta para não termos de nadar na imundície ideológica da esquerda atual, e para, com um mínimo de bom senso, nos tornarmos reacionários de direita sim, em defesa da vida, com orgulho.

Nota1. Presidente da antiga Tchecoslováquia e depois da República Tcheca e conhecido filósofo e escritor, a palestra aconteceu no dia 30 de abril de 1999 para o parlamento do Canadá (dado obtido em palestra do teólogo Vinoth Ramachandra à USC Berkeley, 2002).

• Bráulia Ribeiro, missionária em Porto Velho, RO, é autora de Chamado Radical (Editora Ultimato). braulia_ribeiro@uol.com.br