quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Missões nos dias de hoje


Essa é uma carta informativa de uma missionaria da Jocum.
Palavras de encorajamento para a Igreja e todos aqueles que se encontram no campo missionário.

O conceito de missionário (a) tem começado a se tornar comum no contexto cristão no Brasil. Estamos vivendo um grande despertar para o mesmo. Temos realizado muitas conferências missionárias, muitos projetos, novas agências de missões se levantando em diferentes partes do mundo, muitas igrejas estão enviando, confiando e abrindo seus escritórios de missões.
Tenho visto no campo, missionários entre 18 a 80 anos. Muitos jovens têm se despertado, casais, famílias, pessoas avançada em idade e até mesmo crianças e adolescentes tem doado suas férias escolares para realizar missões. E dessa forma missões esta sendo realizado de tempo integral em diferentes partes do mundo, a curto, médio e longo prazos. Isso é magnífico! Essa grande avalanche chamada Missões faz parte do cumprimento da promessa, os Céus têm pressa, e esse despertar é como o grito dos anjos anunciando como está próxima a volta de Jesus. Diante de tudo isso, temos uma grande responsabilidade de honrar a Deus ac­ima de tudo e vivermos dígnos de ser­mos chamados missionários. Se per­dermos o foco do significado de ser um missionário desfaleceremos. Mas qual o significado de ser missionário? O que é ser um verdadeiro missionário?
No livro de Atos dos apóstolos aprendemos muito com os relatos de Paulo. Após a crucificação e a GLORIOSA RESURREIÇÃO de JESUS CRISTO, os apóstolos foram os primeiros missionários contidos nos relatos bíblicos do novo testamento. E se lermos bem chegaremos à conclusão do que é ser um verdadeiro missionário.
Eles eram portadores da Verdade dispostos a levar a mensagem de Cristo a todos os lugares habitados da terra. Foram viajantes por terra, andaram muitos quilômetros e por vários dias, e também por mar e até naufragaram algumas vezes. Eles não tinham sustento fixo e nem conta bancária com cartões de crédito para a hora do sufoco. Eles foram excluídos pelos seus, rejeitados, prisioneiros, açoitados, apedrejados, decapitados, cerrados, crucificados, taxados como blasfemadores e até mortos. Isso nos ensina que ser um mis­sionário e renunciar a própria vida para que outros encontrem a Vida (I Jo 3:16). Jesus é o caminho, a verdade e a vida, e Ele mesmo foi um missionário, e plan­tou isso também nos corações dos seus discípulos. Foi algo tão impactante que até hoje colhemos esses frutos. E necessário se entregar e depender totalmente de Deus. Mas sabemos que não parou por aí, com os anos o evangelho foi se expandindo, vimos que muitos missionários de épocas também viveram nessa entrega total. Deixaram tudo por povos transculturais, passando vários anos no meio deles, apre­ndendo a língua, comendo com eles e como eles, se escondendo, fugindo, contrabandeando bíblias, pioneirando agências missionárias e iniciando igrejas. São inúmeras as obras realizadas, mais eles permaneceram. Os desafios, na verdade, eles sempre vão existir mas claro que cada tipo de desafio relacionado a sua época. Nos dias de hoje, por exemplo, na era do facilitarismo, onde tudo se consegue rápido e sem muito esforço. Nós missionários mesmo com tantas conquistas e facilidades como avião, carros, conta bancária, sus­tento fixo e muitos intercessores. Não podemos perder a dependência total em Deus, passando a confiar na criatura do que no Criador. Creio fielmente que tudo que temos hoje é por causa do preço que muitos missionários pagaram antigamente. Ser missionário não significa apenas assinar o nome no final das nossas cartas informativas. Temos que viver realmente para o que fomos chamados custe o que custar, a entrega e dependência jamais poderá ser substituída pela época presente.
Jesus pagaram o preço os apóstolos, e muitos pastores e missionários também o fizeram, continuemos a viver o verdadeiro significado da vida missionária para que o mundo saiba que Jesus Cristo é o Senhor.
Tenha orgulho de dizer “Eu sou missionário”, mas antes de dizer tenhamos coragem de viver como um Missionário. Um dia Jesus disse: “Em verdade, em verdade vos digo: Se o grão de trigo, caindo em terra, não morrer fica ele só, mas se morrer produz muitos frutos.” Jo. 12:24.
Para que outros colham, a questão não é viver e sim morrer.

Um grande abraço e fiquem na paz. Lílian Bertoldo

Jesus e a Política - Frei Betto


Não há nada mais político do que dizer que a religião nada tem a ver com a política
(Desmond Tutu-bispo sul-africano e prêmio Nobel da Paz)

Na América Latina, não se pode separar fé e política, assim como não seria possível fazê-lo na Palestina do século I. Na terra de Jesus, quem detinha o poder político, detinha também o poder religioso. E vice-versa. Talvez soasse estranho, hoje, a certos ouvidos religiosos introduzir a leitura do Evangelho falando de Clinton e Nelson Mandela, Felipe Gonzaléz e François Mitterand. No entanto, ao introduzir-nos nos relatos da prática de Jesus, Lucas primeiro nos situa no contexto político, informando que "já fazia quinze anos que Tibério era imperador romano. Pôncio Pilatos era governador da Judéia, Herodes governava a Galiléia e seu irmão Felipe, a região da Ituréia e Traconites. Lisânias era governador de Abilene. Anás e Caifás eram os presidentes dos sacerdotes" (3, 1-2).
Foi sob o símbolo da cruz que a colonização ibérica na América Latina promoveu o genocídio de 30 milhões de indígenas e o saque das riquezas naturais. Sob a silenciosa cumplicidade da Igreja católica, mais de 10 milhões de negros foram trazidos da África, como escravos, para o nosso continente. Com a conivência das Igrejas cristãs, instalou-se em nossos países o sistema burguês de dominação capitalista. Portanto, não se trata de vincular fé e política somente quando se refere ao atual processo eleitoral.
O fato de que fé e política estejam sempre vinculados em nossas vidas concretas, como seres sociais que somos - ou animais políticos , na expressão de Aristóteles - não deve constituir uma novidade senão para aqueles que se deixam iludir por uma leitura fundamentalista da Bíblia, que pretende desencarnar o que Deus quis encarnado. A fé é um dom do Pai a nós que vivemos neste mundo. No Céu, nossa fé será vã, pois veremos a Deus face a face. Portanto, a fé é um dom politicamente encarnado, que tem razão de ser nesta conflitividade histórica, na qual somos chamados, pela graça, a distinguir o projeto salvífico de Deus.
Nem mesmo em Jesus é possível ignorar a íntima relação entre fé e política, ainda que, para alguns cristãos, pareça estranho aplicar certas categorias Àquele que nos assegura, por sua ressurreição, a vitória, em última instância, da vida sobre a morte e da justiça sobre a injustiça. Que Jesus tinha fé o sabemos pelos textos que falam dos longos momentos que ele passava em oração (Lucas 4, 16; 5, 16; 6, 12). Ora, só quem necessita aprofundar sua fé entrega-se ao encontro orante com o Pai. A oração é para a fé o que o adubo é para a terra ou o gesto de carinho para o casal que se ama. O Evangelho nos fala até mesmo das crises de fé de Jesus, como as tentações no deserto (Mateus 4, 1-11; Marcos 1, 12-13; Lucas 4, 1-13) e o abandono que ele sentiu na agonia no horto das oliveiras (Mateus 26, 36-46; Marcos 14, 32-42; Lucas 22, 39-46).
Há quem insista que Jesus se restringiu a comunicar-nos uma mensagem religiosa que nada tem de política ou ideológica. Tal leitura só é possível se reduzimos a exegese bíblica à pescaria de versículos, arrancando os textos de seus contextos. Não é só o texto que revela a Palavra de Deus, mas também o contexto social, político, econômico e ideológico, no qual se desenrola a prática evangelizadora de Jesus. Todos nós, cristãos, somos inelutavelmente discípulos de um prisioneiro político. Mesmo que na consciência de Jesus houvesse apenas motivações religiosas, sua aliança com os oprimidos, seu projeto de vida para todos (João 10, 10), tiveram objetivas implicações políticas. Por isso ele não morreu na cama, mas na cruz, condenado à pena de morte. Já na introdução de seu evangelho, Marcos mostra como as curas operadas por Jesus - o homem de espírito mau, a sogra de Pedro, os possessos, o leproso, o paralítico, o homem de mão aleijada - desestabilizaram de tal modo o sistema ideológico e os interesses políticos vigentes, que levaram dois partidos inimigos - o dos fariseus e o dos herodianos - a fazerem aliança para conspirar em torno de "planos para matar Jesus" (3, 6). Assim, vê-se que as implicações políticas da ação salvífica de Jesus tornaram-se tão graves e ameaçadoras, que induziram Caifás, em nome do Sinédrio, a expressar que era "melhor que morra apenas um homem pelo povo do que deixar que o país todo seja destruído" (João 11, 50).
E como situar, no contexto da Palestina do século I, a questão ideológica? Lucas registra que "Jesus crescia tanto no corpo como em sabedoria" (2, 52). Era pois um homem de seu tempo e que, segundo Paulo, "pela sua própria vontade abandonou tudo o que tinha e tomou a natureza de servo e se tornou semelhante ao homem" (Filipenses 2, 7). A divindade de Jesus não transparecia por uma consciência que pudesse emergir completamente de seu contexto cultural e sobrepairar, onisciente, acima do tempo e do espaço. Tal possibilidade adequa-se à imagem grega de deus e não à imagem bíblica. Jesus era Deus encarnado e possuía a mesma natureza do Pai. Ora, para o Novo Testamento, "Deus é amor. Quem vive no amor vive em união com Deus e Deus vive em união com ele" (1 João 4, 16). Portanto, Jesus era Deus porque amava assim como só Deus ama. E nisto consiste a nossa imagem e semelhança com Deus: é divina a natureza de todo amor de que somos capazes. E o somos como abertura a Deus, que nos habita mais profundamente do que o nosso próprio eu, e nos faz acolher o próximo. No entanto, nossa consciência, como a de Jesus, permanece tributária de nosso lugar social e de nosso tempo histórico. Em Jesus, Deus acolhe preferencialmente os oprimidos, em cujo lugar social se encarna e a partir do qual anuncia a universalidade de sua mensagem de salvação. Não há pois neutralidade. Jesus assume a ótica e o espaço vital dos pobres. Seu ponto de vista é a vista situada a partir de um ponto, o da Promessa que ressoa como bem-aventurança aos que injustamente foram privados da plenitude da vida.
Há também em Jesus um vínculo profundo entre sua fé e a ideologia apocalíptica, que o fez esperar com tanta expectativa a eclosão do Reino de Deus ainda para a sua geração (Marcos 9, 1). Muitos exegetas estão de acordo que a crise maior de Jesus foi constatar que não haveria coincidência entre seu tempo pessoal e seu projeto histórico. O Reino, que se antecipou em sua vida e ressurreição, exigiria a Igreja como sacramento histórico capaz de anunciá-lo, testemunhá-lo e prepará-lo na acolhida do dom de Deus.